Este é o distúrbio alimentar que me custa mais abordar. Foi aquele que sofri e contra o qual ainda luto todos os dias. Uns com mais sucesso do que outros.
A compulsão alimentar caracteriza-se por:
- consumo exagerado de alimentos, mas sem a provocação do vómito posterior;
- este desejo surge uma ou duas vezes por semana;
- a ingestão dos alimentos é geralmente rápida, apesar do doente não sentir fome, e individual, porque há vergonha de comer em público, até a pessoa se sentir desagradavelmente cheia;
- depois dos episódios, os doentes tendem a sentir-se tristes e culpados, embora não tenham uma preocupação irracional com o corpo e o peso;
- funciona quase um ciclo vicioso, prevalecendo à medida que o peso aumenta;
- os doentes costumam ter problemas de depressão.
Foi o meu caso. A par da depressão desenvolvi este distúrbio alimentar. Comer exageradamente porcarias, mesmo sem fome, foi a forma que encontrei de lidar com o stress. E é exactamente como se diz acima. O sentimento de culpa e tristeza depois de se comer uma carrada de porcarias é avassalador. Ao ponto de a pessoa, depois, passar horas a chorar.
Claro que depois a pessoa vai engordando e aquilo que eu pensava era: já sou tão gorda e tão feia, mais um bocado ninguém vai notar a diferença.
O estranho é que fora estes episódios, que no meu caso, tinha alturas em que eram diários, sempre tive uma alimentação minimamente equilibrada e saudável, pelo menos às refeições.
Agora tenho o prazer de vos dizer que estou a lutar com todas as minhas forças contra estes dois problemas. Mais uns meses e tenho alta da psiquiatra. Desde que me comecei a tratar emagreci mais de 10 quilos, com a ajuda de medicação e psicoterapia. Estou a aprender a lidar com o stress e as preocupações de forma diferente e posso-vos dizer que há mais de ano e meio que não tenho um episódio de consumo exagerado de porcarias, pelo menos não tão forte como tinha antes.
Mas também vos digo que é uma luta diária. É muito difícil, naqueles dias ou semanas em que tudo corre mal, não me agarrar às bolachas, chocolates e batatas fritas. É extraordinariamente difícil, ainda mais desde que parei de tomar a medicação. É uma luta que dói muito e há dias que não tem como segurar. É preciso uma força de vontade de herói.
Acho que nunca tinha falado desta luta pessoal com ninguém, a não ser com a minha psiquiatra e a psicóloga. Mas fica aqui agora para quem quiser ler.